segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Fábrica no noroeste produz óleo natural de maracujá

O Brasil é um dos grandes produtores mundiais de maracujá. Mas 70% da fruta – o que significa dizer cascas e sementes – são descartados depois do aproveitamento da polpa pela indústria de sucos. Para aproveitar esse resíduo, já que as sementes podem servir como matéria-prima para extração de óleos para uso na indústria de cosméticos, um projeto uniu, em parceria, a empresa Extrair Óleos Naturais, a Embrapa e a Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf). Com recursos do edital Inovação Tecnológica, da FAPERJ, foi instalada uma primeira unidade em Bom Jesus do Itabapoana, no noroeste fluminense.
A extração de óleos naturais não é novidade. No caso do maracujá, no entanto, as sementes são bastante sensíveis à deterioração por processos de fermentação, o que costuma resultar em óleo de baixa qualidade. Para evitar que isso aconteça, estudos na Uenf e na Embrapa desenvolveram um equipamento específico para lavagem e secagem das sementes.
- Essa foi uma das inovações que introduzimos no processamento - afirma Sérgio Cenci, pesquisador da Embrapa Agroindústria de Alimentos e coordenador da pesquisa.
Ele explica que o trabalho começa com a separação de cascas das sementes.
- Isso é feito por ocasião da extração do suco na indústria. O tratamento dessas sementes (lavagem e secagem) deve ser feito o mais rapidamente possível. O ideal é que seja feito ainda na própria unidade industrial de produção de suco - diz.
No caso da Extrair, de Bom Jesus de Itabapoana, a fábrica foi montada em proximidade às indústrias de suco, o que já facilita essa logística. Ao chegar, a matéria-prima é separada e logo entra no processo de lavagem.
- Essa etapa é importante porque as sementes vêm envoltas em mucilagem, uma espécie de película que as recobre e que precisa ser retirada durante essa fase. Essa mucilagem, que é rica em pectina, pode, inclusive, ser também aproveitada na indústria de alimentos. É uma substância que serve para dar consistência cremosa a certos alimentos, como geleias - explica Sérgio.
O equipamento substitui a lavagem feita manualmente. Resultado de projeto que uniu pesquisadores da Embrapa e da Uenf, a máquina foi especialmente desenvolvida para reduzir o tempo e tornar tudo mais eficiente. Para tanto, usa água aquecida, a que são acrescentados solventes para agilizar o processo.
- Com isso, além de uma lavagem mais rápida, também conseguimos reduzir substancialmente a quantidade de água utilizada - explica Sandro Reis, um dos sócios da recém-inaugurada empresa Extrair.
Na etapa seguinte, as sementes já lavadas passam para a secagem.
- Ajustamos os parâmetros de temperatura para não prejudicar a qualidade na extração do óleo que será feita a seguir - diz Sandro.
Na extração, feita por prensagem, a prensa, que é regulável, é semelhante à usada para retirada de óleo de sementes de girassol ou pinhão-manso, matéria-prima para produção de biodiesel. Depois de passar por uma filtragem, o óleo obtido já está pronto para ser embalado e transportado.
- Em todo o processo, podemos destacar dois problemas. As sementes que chegam podem fermentar quando são estocadas em condições inadequadas e, por outro lado, o óleo já extraído, que é instável, também requer cuidados tanto na estocagem quanto no transporte para manter a qualidade. Caso contrário, ele pode oxidar - explica Sandro.
Essa questão vem motivando novas pesquisas. Os pesquisadores da Embrapa e da Uenf agora estudam métodos para evitar a oxidação e manter a qualidade do óleo.
Sérgio Cenci explica que, da fruta propriamente dita, apenas 30% formam a polpa aproveitada pela indústria de suco.
- Dos restantes 70% de cascas e sementes, a maior parte é formada por cascas, que somam 58%. Apenas 12% são sementes. Essas sementes brutas (semente úmida mais a mucilagem), depois de lavadas e secas, reduzem-se à 5% da massa total - esclarece.
Em números, isso significa que, no processamento de 10 mil toneladas de frutas para a indústria do suco, as 7 mil toneladas de resíduos resultarão em apenas 5% de sementes secas, ou 350 toneladas. Essas sementes secas produzirão 25% de óleo, ou 87,5 toneladas.

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